História

A partir dos debates suscitados no Seminário de Viña del Mar é criado, em 1961, o  Departamento de Medicina Preventiva (DMP) da Escola Paulista de Medicina (EPM). O DMP é a unidade didática e científica encarregada pelo ensino, pesquisa e extensão do campo de conhecimento e práticas da Saúde Coletiva. 

As Disciplinas de Bioestatística, Epidemiologia, Nutrição e Medicina Preventiva Clínica compuseram o Departamento na sua fundação. A partir dos anos 2000 foram incorporadas as áreas de conhecimento de Ciências Sociais e Humanas em Saúde (CSHS) e de Política, Planejamento e Gestão em Saúde (PPGS). 

O departamento atua sem uma organização disciplinar (de caráter administrativo),  mas com áreas técnico-científicas.

Compõe também o DMP o projeto Xingu, a mais antiga ação de extensão da UNIFESP, com atuação desde os anos 1970 no Parque Indígena do Xingu <http://www.projetoxingu.unifesp.br>. O Projeto Xingu é responsável pelo Ambulatório do Índio.

Desde os o final da década de 1990 o departamento é responsável pelas ações de pesquisa e de assistência desenvolvidas no Centro Estudos do Envelhecimento. Iniciativa pioneira que, diante do envelhecimento populacional, a transição demográfica e epidemiológica, acompanha uma coorte de idosos residentes no bairro da Vila Clementino, na cidade de São Paulo.

O ensino de graduação da medicina sob nossa responsabilidade se estende do primeiro ao quinto ano do curso. Somos responsáveis pela execução de seis unidades curriculares (UC), além de sermos membro de mais duas outras UCs de caráter interdepartamental. 

Atuamos na graduação nos cursos de Fonoaudiologia, Biomedicina, Tecnologias e, também, no curso de Enfermagem na Escola Paulista de Enfermagem.  Na pós-graduação senso lato, somos responsáveis pela Residência de Medicina de Família e Comunidade, tendo desenvolvido até os anos 90, o programa de Residência Médica em Medicina Preventiva e Social, que formou quadros importantes de médicos sanitaristas.

 Abrigamos o programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva, que teve seu início na década de 1990, como uma Pós-Graduação em Epidemiologia.

 No ensino, buscamos articular as seguintes áreas acadêmicas:

O campo de atuação do DMP é multiprofissional e interdisciplinar por excelência, o que nos faz diferente de outras áreas da saúde e da própria medicina. 

Outra característica singular do nosso campo de conhecimento e práticas é a nossa extensão para pensar os processos de ensino e de formação dos profissionais de saúde, para além do hospital. Desta forma é possível destacar que articulação do DMP com os serviços de saúde teve origem ainda antes da constituição do SUS, a partir da instituição do Centro de Saúde Escola (CSE), nos anos 1970 até o início dos anos 2000. 

Junto com o Ambulatório de Medicina Geral e Familiar (um ambulatório de ensino) representou uma novidade curricular, e estavam em consonância com os processos de reforma do ensino médico dos anos 70 a 80. O programa de Integração Docente Assistencial (PIDA), como outra modalidade de articulação entre ensino e serviço, foi desenvolvido, também, por membros do departamento durante os anos 80 e 90 na região do Jabaquara e Ipiranga do município de São Paulo. 

Todos os projetos de ensino, de pesquisa e de extensão realizados neste período pelo departamento contaram com financiamentos internacionais de indução para as transformações na educação de profissionais de saúde, com uma forte vertente de formação de epidemiologistas clínicos (fundação Kellogs e Fundação Ford, em particular). Vários profissionais médicos e professores foram formados neste período e hoje atuam em diferentes departamentos da Escola Paulista de Medicina. Estes espaços, em particular as Unidades Básicas de Saúde, incluindo o CSE, foram cenários de ensino-aprendizagem para os alunos de graduação da medicina, da enfermagem e da fonoaudiologia, além dos residentes médicos e especializandos. 

No final da década de 1990, dada a necessidade de incorporação dos conteúdos ligados à política de saúde e de aperfeiçoar a articulação ensino - serviço, com apoio da direção da Universidade, o departamento elaborou e discutiu uma proposta de constituição de um distrito de saúde escola na região do Jabaquara.  Momento que coincide com a mudança do CSE, da Vila Clementino, para o CS da Vila Mariana. Contamos nessa empreitada com uma assessoria dos professores do Departamento de Saúde Coletiva da Unicamp.

As experiências de atuação do DMP, em articulação com os serviços de saúde, colaboraram na formação dos quadros que compuseram uma segunda e uma terceira geração de técnicos e docentes que configuraram o DMP (incorporação das ciências sociais e de outros profissionais e a entrada de profissionais com formação em saúde pública, epidemiologistas e estatísticos, respectivamente), a partir do final dos anos 70. É possível dizer, que, associados aos fundadores do departamento, Professores Walter Leser (secretário de Saúde do Estado de são Paulo por dois períodos), Magid Iunes (oriundo do departamento de Medicina e responsável pelo serviço de metabolismo e nutrição,  introdutor da ideia de uma preventiva clínica)  e  Roberto Baruzzi (formação em saúde pública pela London School, além da formação clínica, responsável pela implantação e desenvolvimento do projeto Xingu), são estes momentos-movimentos e as pessoas das diferentes gerações os responsáveis pela manutenção do DMP em seus quase 60 anos de existência e que, agora, recebe já uma quarta geração de professores e técnicos.

Com a aprovação das Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de Saúde (DCN-2001), que além de assumir uma ampliação do conceito de saúde, apontava a rede do SUS como cenário preferencial de prática e um aumento do ensino na atenção básica em saúde, os membros do DMP atuaram  e compuseram  os vários movimentos visando a transformação curricular, participando ativamente dos espaços institucionais que capitaneavam tais processos, assumindo por quase seis anos a coordenação  o núcleo de integração ensino-serviço. Tais iniciativas foram incentivadas pelos Ministérios da Saúde e da Educação, entre elas destacando-se o Promed (2002), o Pro Saúde (2005) e o Pet Saúde (2008).  Nesse período foram produzidos textos e publicados artigos, sendo alguns destes premiados em congresso pelas inovações curriculares executadas pelo DMP e pela EPM-Unifesp. Nos últimos anos integramos os programas institucionais de extensão de Residência Multiprofissional na área hospitalar e o UNA-SUS da Unifesp, que visam o fortalecimento SUS. Mantendo a tradição, retomamos os espaços institucionais de discussão e articulação curricular da medicina e somos representantes no COAPES (Contrato Organizativo de Ação Pública Ensino-Serviço) na coordenação de saúde da região sudeste da secretaria municipal de saúde desde 2015. Nossa inserção nos processos de discussão de mudança de currículo do curso médico é bastante intensa e pioneira ao introduzir o ensino das ciências sociais no curso médico, ainda no final dos anos 80 e meados dos anos 90.

Na extensão, somos responsáveis, também, por programas de prevenção do uso de álcool e outras drogas entre escolares, linha de atuação e de pesquisa que se amplia e se consolida no departamento, ao recebermos os estudos e as ações do Centro Brasileiro de Informação sobre Drogas, coordenado pelo Prof. Carlini, em 2011.  Coordenamos, ainda, projetos, programas e ações relacionadas às terapias e práticas integrativas, em particular sobre Mindfulness, com uma consubstanciada produção acadêmica na área.

Na pesquisa, podemos destacar os estudos relacionados à epidemiologia, entre eles a coorte de idosos no bairro da Vila Clementino, que acompanha as pessoas com mais de 60 anos desde os anos 90; o estudo sobre o uso de álcool e outras drogas entre adolescentes; os estudos relacionados à segurança alimentar; como também as atividades ligadas à vigilância à saúde, via núcleo de vigilância epidemiológica hospitalar. Tais estudos mantêm uma tradição do DMP de realização de investigações populacionais ocorridas desde os anos 70. Como por exemplo as pesquisas relativas às Condições de saúde e nutrição de crianças no município de São Paulo e os estudos que apontaram os fatores de risco para a hipertensão arterial entre classes profissionais (anos 70 e 80); na década de noventa os levantamentos sobre a prevalência de Diabetes Mellitus em várias regiões do município de São Paulo e do Brasil, entre outros estudos populacionais.  Sem esquecer dos levantamentos das condições de saúde e nutrição de populações indígenas.

 Na área de CSHS, as investigações sobre diferenças, imigração e (des)informação em saúde relacionam-se com problemáticas da comunicação em saúde, os estudos interculturais, de direito humanos e às relativas aos imigrantes e refugiados. Como área mais recente no DMP, a PPGS tem se consolidado na realização de pesquisas no e para o SUS, com projetos financiados pela política do PPSUS, ou em editais de políticas públicas; estudos tanto da gestão do cuidado quanto da gestão do trabalho configuram esta linha de pesquisa. 

Observa-se assim uma consolidação das linhas de pesquisa da epidemiologia, associada a uma ampliação de outras linhas. São elas que configuram o atual Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva (mestrado e doutorado).

O DMP emprestou e empresta seus quadros para espaços institucionais, tanto para dentro da Universidade, quanto para fora dela. Assim, entre os anos 60 e 70, tivemos o Prof. Walter Leser como secretário de estado da saúde e o Prof. Magid Iunes como diretor da Escola Paulista de Medicina, na década de 1980.   A partir de 2005, as professoras Eleonora Menicucci e Rosemarie Andreazza ocuparam respectivamente as Pró-Reitorias de Extensão e de Gestão com Pessoas da Unifesp. E, por fim, os professores Ademar Arthur Chioro dos Reis e Eleonora Menicucci como ministros da Saúde e da Secretária de Direito das Mulheres.  Neste mesmo sentido, ocupamos em vários momentos espaços em organizações transnacionais relativas à saúde, como a OPAS, Unicef e a própria OMS, como é o caso da Profa. Zila van der Meer Sanchez Dutenhefner no Comitê para Revisão das Diretrizes Internacionais de Prevenção ao uso de Drogas da ONU (UNODC- United Nations Office for Drugs and Crimes) e no Comitê para Vigilância do Álcool da PAHO (Pan American Health Organization), entre 2017 e 2018.

Atualmente o departamento experimenta um momento de transição com a chegada de novos professores e técnicos e, com isto, um desafio de incorporar o novo e sua potencialidade sem deixar de nos vermos, com aquilo que já experimentamos e fizemos, no novo que se estabelece. Nem sempre o conjunto de projetos nos deu um objetivo comum ou mesmo uma identidade como departamento, mas ao olharmos o que já fomos capazes de produzir percebemos aspectos comuns que nos aproximam e nos identificam como Departamento e que nos fazem diferentes de outras áreas da saúde e da própria medicina.

 A novidade é a oportunidade de nos olharmos de frente e de falarmos abertamente sobre a coexistência, num mesmo espaço acadêmico-científico, de um referencial tradicional da medicina preventiva, que se atualiza, nos próprios preceitos da medicina de família, com o referencial potente e militante da saúde coletiva, que supera a própria concepção da saúde pública, no cenário brasileiro. Este é um pensamento que nos dá singularidade, nos dá potência, nos diferencia dentro da Universidade e da própria Escola Médica, nos fez e nos faz existir.